Projeto ‘Rodando com Tampinhas’ doa 100ª cadeira de rodas

Em 10 meses, projeto uniu o Rio na coleta de 20 milhões de tampinhas plásticas – 40 toneladas! A venda para reciclagem permite a compra de cadeiras de...

Em 10 meses, projeto uniu o Rio na coleta de 20 milhões de tampinhas plásticas – 40 toneladas! A venda para reciclagem permite a compra de cadeiras de rodas para pessoas carentes.

 

Nem em seus sonhos mais otimistas, Márcia Dabul, a criadora do Rodando com Tampinhas, ousava imaginar que em menos de um ano o projeto ganharia a proporção que tomou: tem recebido, por semana, de 2,5 a 3 toneladas de tampinhas coletadas uma a uma por milhares de pessoas em todo o Rio. Ou melhor, em todo o Estado do Rio, já que a ideia se espalhou por muitas cidades.

A proposta é simples: juntar tampinhas para vender o plástico a indústrias que fazem a reciclagem e, com o dinheiro, comprar cadeiras de rodas para serem doadas a adultos e crianças que aguardam na fila da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR).

Por aliar o cuidado com o meio ambiente ao desejo de ajudar o próximo – e sem exigir quase nada de quem participa, apenas que guarde tampinhas – o projeto conquistou a cidade.

O primeiro aliado foi o Padre Omar, da Igreja São José da Lagoa. Ele permitiu, desde o início, que as tampinhas doadas ficassem na paróquia, como ponto central de coleta. Talvez não tenha imaginado que seriam tantas… “Ficam todas guardadas dentro da igreja. O padre até brinca que vai trocar o nome para São José das Tampinhas”, conta Márcia.

O primeiro aliado foi o Padre Omar, da Igreja São José da Lagoa. Ele permitiu, desde o início, que as tampinhas doadas ficassem na paróquia, como ponto central de coleta. Talvez não tenha imaginado que seriam tantas… “Ficam todas guardadas dentro da igreja. O padre até brinca que vai trocar o nome para São José das Tampinhas”, conta Márcia.

Voluntários lidam com tampinhas na Igreja São José da Lagoa
Crianças, adultos e idosos participam de todas as etapas do projeto. Foto: Arquivo pessoal

Nos primeiros meses, voluntários se reuniam após a missa de domingo, ali mesmo na igreja, para fazer a triagem das tampinhas recolhidas e pesá-las para a venda. Este tempo ficou curto demais: para lidar com tantas tampinhas, os voluntários agora fazem quatro encontros semanais.

Separação por cores

Além de selecionarem as tampinhas plásticas corretas e retirarem materiais inapropriados, como metais, o grupo agora tenta separá-las por cor. Isto porque, no processo de reciclagem, quando se mistura tampinhas coloridas, obtém-se como matéria prima o plástico preto.

“Temos um super parceiro, o Instituto Soul Ambiental, que compra as tampinhas para reciclagem e deposita o valor correspondente em dinheiro diretamente na conta da empresa que vende as cadeiras de rodas. Com o crescimento do projeto, eles ficaram com um estoque enorme de plástico preto. Não estavam mais dando vazão. E, se a empresa não conseguisse vender o que tinha em estoque, teríamos que parar a compra de cadeiras”, explica Márcia.

 

 

Voluntários em mutirão separando as tampinhas doadas
Voluntários em mutirão para separar as tampinhas doadas. Foto: Arquivo pessoal

A solução encontrada foi separar as tampinhas por cor, assim o projeto passou a obter plástico branco, vermelho, amarelo e de diversos tons na reciclagem. Na indústria, este plástico tem mais possibilidades de venda por poder virar brinquedos, potes, bancos, mesas e diversos objetos.

Nas redes sociais, os organizadores do projeto começaram a pedir a quem pudesse que já entregasse as tampinhas separadas por cor. E a surpresa foi grande: muita gente aderiu. Mas milhares ainda vêm misturadas e são separadas pelos voluntários nos mutirões.

“O que está acontecendo agora? Fico arrepiada de contar. Muitos idosos levam sacos enormes cheios de tampinhas para casa e retornam com todas separadas por cor. Estou encantada”, diz Márcia.

Onde doar tampinhas

O Rodando com Tampinhas fez dez meses em outubro e atualmente conta com 70 pontos de coleta espalhados por toda a capital, além de várias cidades do interior do Estado (veja a lista completa aqui). São pontos que concentram as doações e depois levam as tampinhas para a Igreja São José da Lagoa, onde um caminhão do Instituto Soul Ambiental as recolhe toda semana para a reciclagem.

Caminhão abastecido com toneladas de tampinhas plásticas
Toda semana toneladas de tampinhas plásticas partem para a reciclagem. Foto: Arquivo pessoal

E as novidades são as mais imprevistas: a fila por uma cadeira de rodas, ao contrário do que se esperava, só aumenta. “Como divulgamos com o Rodando com Tampinhas que a ABBR doava cadeiras de rodas, a procura cresce a cada dia. Muita gente não sabia que não é preciso ser paciente de lá para estar nesta fila”, explica Márcia, lembrando que, no início de outubro, havia 371 adultos e 177 crianças na lista.

Mas a notícia continua sendo boa: apesar de a fila crescer em número, já caiu o tempo de espera. “Quando começamos o projeto, cada pessoa aguardava em torno de dois anos para ganhar uma cadeira de rodas. Hoje em dia, espera-se no máximo quatro meses. A fila é grande, mas está andando”, comemora Márcia.

200 cadeiras de rodas

Ah, e outra ótima notícia: motivados pelo projeto, muitas pessoas decidiram doar, em vez de tampinhas, as próprias cadeiras. Nesta semana, além de o projeto ultrapassar as 100 cadeiras de rodas conquistadas com a reciclagem (foram 105), alcançou a marca de 200 cedidas à ABBR por meio do Rodando com Tampinhas. Isso porque 95 foram obtidas por doações diretas.

De tampinha em tampinha, muitas pessoas com deficiência têm ganhado a liberdade de circular pelas ruas do Rio.