Gerente de Vigilância em Doenças Transmissíveis relembra medos, obstáculos e desafios da pandemia

Cuiabá já acumula mais de 64 mil pessoas que foram infectadas pelo vírus, além de 1931 óbitos

Neste mês de março, completa-se um ano após ter sido declarada pelo Ministério da Saúde a situação de pandemia pela Covid-19. De lá para cá já foram milhares de vidas perdidas e pessoas infectadas ao redor do mundo. Cuiabá registra mais de 64 mil pessoas que foram infectadas pelo vírus, além de 1931 óbitos desde o começo da pandemia.

A gerente de Vigilância em Doenças e Agravos Transmissíveis, Flávia Guimarães, relembra os medos, obstáculos e desafios no enfrentamento ao vírus na Capital mato-grossense. Ela conta que ainda em janeiro de 2020, participou da primeira reunião já para falar do novo vírus que não tinha sequer saído da China, país onde foi anunciado os primeiros casos da doença.

“Desde o começo nós buscamos organizar a rede municipal, trabalhamos para organizar o serviço e entender o que estava acontecendo no mundo. Nossa primeira reunião foi no dia 29 de janeiro, já para discutir a situação do coronavírus no mundo, e começar a preparação para o nosso Município. Desde então tem sido um grande desafio, porque foi tudo planejado, pensado e avaliado, mas tivemos alguns problemas para executar, principalmente no que está relacionado no comportamento da população, no sentido de dar entendimento sobre ser uma doença de transmissão respiratória. Mas, mesmo nós tendo feito esse trabalho, ainda não conseguimos fazer surtir todos os efeitos necessários”, conta a profissional.

A gerente recorda ainda que o momento era de se organizar dentro do caos, tendo que assistir de perto os casos em crescimento dia após dia, a necessidade de leitos de enfermaria e UTIs (Unidade de Terapia Intensiva) sendo cada vez maior, passar diante de seus olhos. Segundo ela, a situação de impotência foi grande.

“O primeiro final de semana que tivemos 20 óbitos, eu lembro que foi num dia só, e foi muito marcante, porque por mais que tivéssemos feito toda uma organização, não foi o suficiente, pela própria característica da doença. Não tivemos condições e o fato de vários idosos ter pegado essa doença no mesmo dia foi bem marcante. Na hora que você ver o número das pessoas que estão na fila de espera pra UTIs ou em situações parecidas com as que eu desempenho, que é de fazer o painel epidemiológico, e ver cada dia um aumento significativo de casos e principalmente ver os óbitos, ver a faixa etária dessas pessoas que estão morrendo, quando você ouve as histórias, que são mulheres, mães de famílias, crianças, é sempre muito chocante, a emoção é muita”, afirma a servidora.

Em junho de 2020 o cenário pandêmico piorou e foi necessário adoção de quarentena obrigatória, mais conhecida como “Lockdown”, devido ao risco muito alto de transmissão do vírus em Cuiabá. Foram 15 dias com a cidade praticamente fechada, sendo proibida a abertura de comércios, boates, restaures e bares. A circulação de pessoas nas ruas também foi limitada com o toque de recolher.

“Foram necessárias algumas estratégias, principalmente para tentar conter a transmissão que se tornou bem maior com a ação proliferativa da população. Para isso, naquele primeiro momento tivemos a restrição aos segmentos e as outras ações para conter a transmissão e aprender como lidar com o vírus, impor formas de Biossegurança, fazer o que poderia ser feito para que a gente diminuísse a transmissão”, lembra Flávia.

Neste ano o aumento de casos de Covid-19 voltou a aumentar depois que as medidas restritivas foram afrouxando conforme a diminuição do vírus no ano passado, o que fez com que uma nova onda da doença chegasse novamente ao Estado. Porém, o que tem preocupado segundo a gerente, é o perfil das pessoas que estão adoecendo e morrendo, que está mudando grotescamente.

“Hoje as escolas estão mais preparadas, os profissionais estão mais capacitados, mas sobre o perfil dos que estão adoecendo são diferentes, vemos hoje mais casos de jovens infectados com o vírus, e isso é uma preocupação, porque antes nós tínhamos pessoas que já tinham outras doenças, que acabavam complicando. Agora nessa situação, a gente tem várias faixas etárias que estão com a Covid, incluindo pessoas bem jovens”.

Agora na gestão Emanuel Pinheiro, com a chegada da vacina, a servidora diz estar esperançosa com a diminuição de infectados e hospitalização. No entanto, faz questão de ressaltar que a imunização total ainda deve demorar e os cuidados de Biossegurança devem continuar mesmo depois da vacinação.

“A intenção da vacina é diminuir o número de hospitalização e óbitos. A infecção da doença vai acontecer ainda, por isso que a gente tem que sempre buscar nos proteger. A vacina é mais um instrumento na diminuição nos óbitos e internações, mas sem os cuidados de afastamento e o uso de máscaras, a transmissão continua. [A vacina] é uma esperança para que a gente não tenha tantos casos acontecendo, porém o processo de vacinação é lento, até pela produção e pela situação de estar acontecendo no mundo inteiro. Então imagina ter que produzir vacina para sete bilhões de pessoas, é um processo longo e até lá nós temos que nos manter a consciência das pessoas sobre a necessidade de proteção. Eu lembro sempre a todos que se trata de um vírus, que passa por mutações, então o efeito da vacina pode não ser o que a gente espera. Então temos que ter cautela e continuar fazendo aquilo que o prefeito recomendou através de decretos e nos proteger”.

Por Prefeitura de Cuiabá