A Pinacoteca de São Paulo recebe a partir de hoje (6) a primeira exposição no Brasil da artista portuguesa Grada Kilomba. A mostra vai ocupar quatro salas da instituição que fica na Luz, região central da capital paulista. Em seu trabalho, que passa por diversas linguagens, a artista explora, com base em suas raízes em Angola e São Tomé e Príncipe, os efeitos ao longo do tempo do sistema colonial.
Açúcar, cacau, café e chocolate são os elementos que compõem a instalação Table of Goods (A Mesa dos Deuses, em inglês). As mercadorias, símbolos da riqueza extraída dos locais dominados pelos europeus, estão organizadas sobre um monte de terra. Uma referência a como a produção feita por mão de obra escravizada servia para trazer luxo a poucos.
Contra colonial
Atualmente vivendo em Berlim, Kilomba expôs em algumas das principais mostras e instituições de artes do mundo, como a Documenta de Kassel, a Bienal de Berlim, a Kadist Art Foundation (Paris) e o Museu Bozar (Bruxelas). Tem sua produção fortemente influenciada pelo psiquiatra e filósofo Frantz Fanon, natural da Martinica, que analisou os impactos psicológicos e as consequências sociais da colonização em seus trabalhos publicados nas décadas de 1950 e 1960.
Inspirada na tradição oral africana dos griots, Kilomba se torna uma contadora de histórias nas obras da série Ilusions (Ilusões). As narrações são acompanhadas de encenações filmadas, em estética minimalista, com poucos elementos de cenário em fundo branco. No vídeo Narcissus and Echo, a artista resgata o mito grego de Narciso que se apaixona pela própria imagem refletida na água. A obra recebeu o prêmio do International Film Festival Rotterdam.
A obra The Dictionary (O Dicionário) foi desenvolvida especialmente para esta exposição na Pinacoteca. São projetadas pela sala as palavras negação, culpa, vergonha, reconhecimento e reparação. Os termos são descritos, com a apresentação de sinônimos e antônimos. Ao fim das projeções, o público fica imerso em uma instalação sonora.
A exposição na Pinacoteca, que fica ao lado da Estação da Luz, pode ser vista até o dia 30 de setembro. O museu funciona de quarta a segunda-feira, das 10h às 17h30.
Por Agência Brasil