Helsinque zera mortes no trânsito: rigor na formação de condutores e políticas públicas explicam o resultado

Entre julho de 2024 e julho de 2025, Helsinque, capital da Finlândia, alcançou um feito impressionante: um ano inteiro sem nenhuma morte no trânsito. O dado, revelado no artigo de Adele Peters, chama atenção porque mostra que cidades podem, sim, mudar a realidade da violência viária quando investem em planejamento, fiscalização e formação de qualidade.

A comparação é inevitável. Enquanto Helsinque, com cerca de 700 mil habitantes, registrou zero mortes, Washington, D.C., com população semelhante, teve 52 vítimas fatais no trânsito em 2024. No Brasil, Ribeirão Preto, também com número próximo de habitantes, registrou mais de 100 mortes no mesmo ano.

O que explica tamanha diferença?

Redução de velocidade e redesenho urbano Conforme o artigo de Adele Peters, Helsinque reduziu de forma radical os limites de velocidade. Hoje, 60% das ruas têm limite de 30 km/h. A cidade também estreitou as vias e plantou árvores próximas ao meio-fio para desencorajar altas velocidades.

Essa mudança fez diferença: uma pessoa atropelada a 50 km/h tem até oito vezes mais risco de morrer do que em um impacto a 30 km/h.

Fiscalização rígida e multas proporcionais à renda

Outro ponto destacado por Adele Peters é o sistema de fiscalização: dezenas de câmeras automáticas registram excessos de velocidade, e as multas são calculadas de acordo com a renda do motorista. O caso mais famoso ocorreu em 2023, quando um milionário foi multado em €121 mil (cerca de R$ 765 mil) por exceder o limite. Esse modelo reforça a percepção de justiça e desestimula a reincidência.

Incentivo ao transporte público e à mobilidade ativa

De acordo com o artigo de Adele Peters, um terço da população de Helsinque vai ao trabalho de transporte público, 36% a pé e 11% de bicicleta. Esse resultado só foi possível porque, nos anos 1960, a cidade rejeitou a ideia de priorizar rodovias e decidiu investir em bondes, ciclovias e transporte coletivo.

Com menos carros nas ruas, os riscos diminuem e o trânsito torna-se naturalmente mais seguro.

Formação rigorosa dos condutores

Mas há outro fator essencial: o processo de formação dos motoristas na Finlândia. Para conquistar a habilitação, o candidato precisa passar por aulas teóricas e práticas obrigatórias, além de um treinamento específico de reconhecimento de riscos, que inclui quatro aulas práticas. Após aprovado, o novo condutor entra em um período probatório de dois anos. Nesse tempo, se cometer duas infrações graves, pode ter a licença suspensa e precisa realizar cursos de direção defensiva para recuperá-la. Esse acompanhamento contínuo é um diferencial em relação ao Brasil, onde o motorista recebe a CNH definitiva após um ano, sem exigência de formação complementar.

O contraste com o Brasil

Enquanto a Finlândia fortalece o rigor e a pedagogia na formação, no Brasil discute-se justamente o oposto: flexibilizar as regras e até extinguir a obrigatoriedade das aulas em autoescolas. Especialistas alertam que essa mudança poderia ser perigosa. O exemplo de Helsinque mostra o caminho contrário: investir em educação, fiscalização e planejamento urbano é o que garante resultados consistentes na redução de mortes.

Com Portal do Trânsito, Mobilidade & Sustentabilidade