Telemedicina transforma a saúde ocupacional e impulsiona a modernização do RH

A transformação digital que atinge diversos setores da economia também avança no campo da saúde ocupacional. Cada vez mais empresas vêm incorporando a telemedicina como ferramenta estratégica para otimizar o cuidado com os colaboradores. Essa tendência tem especial relevância no contexto do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), previsto pela Norma Regulamentadora nº 7 (NR-7) do Ministério do Trabalho. A possibilidade de realizar exames clínicos e complementares à distância, com emissão de laudos por especialistas remotos, representa uma alternativa eficiente frente aos desafios logísticos e financeiros enfrentados pelas organizações.

Essa tendência reflete um movimento global. O mercado de telemedicina foi avaliado em US$ 104,64 bilhões em 2024 e deve atingir US$ 111,99 bilhões em 2025, com projeção de alcançar US$ 334,80 bilhões até 2032, registrando um crescimento anual de 16,9%, segundo relatório da Fortune Business Insights. O uso da telemedicina permite que procedimentos como eletrocardiogramas (ECG), eletroencefalogramas (EEG) e espirometrias, exigidos para determinadas funções de risco, sejam realizados diretamente na empresa.

Para isso, basta contar com infraestrutura básica e profissionais capacitados, como um técnico de enfermagem do trabalho presente em tempo integral, exigência legal para empresas enquadradas nos graus de risco 3 e 4, conforme a NR-7. Esses graus são atribuídos de acordo com o setor de atividade e refletem o potencial de exposição dos trabalhadores a agentes nocivos. Indústrias metalúrgicas, mineração, construção civil e transporte rodoviário de cargas são exemplos típicos de setores classificados nesses níveis mais altos de risco.

O cumprimento das obrigações do PCMSO nesses contextos envolve a contratação de profissionais especializados e também a manutenção de um posto de saúde ocupacional, a realização de exames médicos em diferentes momentos do vínculo empregatício (admissional, periódico, mudança de função, retorno ao trabalho e demissional) e a emissão do Atestado de Saúde Ocupacional (ASO). Quando esses serviços são terceirizados, empresas precisam lidar com custos adicionais, deslocamento de funcionários, ausência durante o expediente e dificuldade de controle sobre prazos e conformidade. A internalização desses processos, aliada à telemedicina, tem se mostrado uma forma eficaz de minimizar esses entraves.

Além dos ganhos logísticos e econômicos, a digitalização dos processos médicos ocupacionais pode ser um diferencial competitivo. Empresas com grande número de funcionários e operação contínua, como as da área industrial, se beneficiam diretamente de um sistema que centraliza e automatiza o cuidado com a saúde, reduzindo o risco de passivos trabalhistas e otimizando o atendimento. De acordo com a legislação, perfis empresariais com mais de 1.500 colaboradores e risco 3 ou 4 são obrigados a manter médico, enfermeiro e técnico de enfermagem do trabalho. Já organizações de risco 2 com mais de 2.500 empregados também precisam atender exigências específicas, como equipe técnica e posto de saúde recomendado.

No entanto, vale ressaltar que a telemedicina automatiza tarefas operacionais e não a opinião do profissional de saúde. Os exames realizados são avaliados e laudados por médicos especialistas à distância, seguindo padrões rigorosos de segurança e ética. A confidencialidade dos dados médicos, o sigilo profissional e a gestão adequada do prontuário do trabalhador permanecem como pilares centrais da saúde ocupacional, devendo ser respeitados em qualquer modalidade de atendimento. As diretrizes exigem a guarda dos registros médicos por no mínimo 20 anos, além da elaboração de relatórios anuais e integração com o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).

A digitalização também abre espaço para campanhas preventivas mais eficazes. A possibilidade de utilizar plataformas integradas para coletar e cruzar dados clínicos favorece a identificação de padrões e a atuação proativa em relação à saúde dos colaboradores. Campanhas de vacinação, orientações sobre ergonomia, saúde mental e doenças crônicas podem ser mais bem planejadas quando se dispõe de um histórico digitalizado e sistematizado dos exames e diagnósticos realizados na empresa.

Sendo assim, é possível afirmar que a telemedicina tem papel crescente na modernização do RH. Ela contribui não apenas para o cumprimento de obrigações legais, mas também para a construção de uma cultura organizacional centrada no bem-estar e na eficiência. Em setores de risco elevado, onde o cuidado com a saúde do trabalhador é estratégico e obrigatório, as soluções digitais podem representar um divisor de águas entre o modelo tradicional, burocrático e oneroso, e uma abordagem mais ágil, integrada e sustentável para o futuro do trabalho.

Com Geysa Xavier