O Incor lança um aplicativo com IA capaz de detectar precocemente arritmias cardíacas

Ferramenta desenvolvida pelo Instituto do Coração pode prevenir complicações graves como infarto e AVC.

O Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas de São Paulo, criou um aplicativo inovador que utiliza inteligência artificial para monitorar e diagnosticar arritmias cardíacas precocemente. Segundo a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), essas alterações no ritmo do coração podem atingir 25% da população ao longo da vida.

A arritmia, caracterizada por batimentos cardíacos acelerados (taquicardia), lentos (bradicardia) ou irregulares, pode levar a complicações graves, incluindo óbito, caso não seja tratada a tempo. Dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2023 e 2024, 3.942 e 2.463 mortes, respectivamente, foram atribuídas a essa condição.

O aplicativo, chamado Trada (Telemonitoramento Remoto Assistido de Arritmia), foi desenvolvido em parceria com a Lenovo e monitora em tempo real os impulsos elétricos do coração durante 30 dias. Conectado a dois sensores externos no paciente, o sistema identifica riscos de arritmias e alerta a equipe médica, permitindo intervenções rápidas, como ajustes medicamentosos via teleconsulta ou encaminhamento a uma unidade de saúde.

Desde 2023, mais de 240 pacientes monitorados pelo Trada no Incor evitaram complicações graves, como infarto, AVC e até a morte. “Algumas arritmias são extremamente perigosas, como a fibrilação atrial, que deixa o coração batendo de maneira descompassada e pode ser fatal”, alerta Guilherme Rabello, diretor de inovação do Incor.

Monitoramento acessível e funcional

Embora o paciente possa reportar sintomas pelo aplicativo, o diagnóstico gerado pela inteligência artificial é acessível apenas à equipe médica. “Isso evita que o paciente se desespere sem necessidade, caso não compreenda o que está acontecendo. A interface foi desenvolvida pensando em reduzir a ansiedade”, explica Rabello.

O Ministério da Saúde registrou 7.518 internações por arritmia em 2023, número que subiu para 7.671 até novembro de 2024. Além disso, houve mais de 62 mil atendimentos ambulatoriais nos dois anos. O Trada está previsto para ser lançado oficialmente no primeiro semestre de 2025, com potencial para ser implementado em outras unidades de saúde e hospitais da rede pública.

Cirurgias cardíacas com monitoramento remoto já são realidade no Brasil

Cerca de 30 mil crianças nascem anualmente no Brasil com cardiopatias congênitas, sendo que 40% necessitam de cirurgia no primeiro ano de vida. Diante da escassez de hospitais especializados, o Incor implementou, em 2022, um projeto de monitoramento remoto para cirurgias cardíacas em crianças, reduzindo a necessidade de transferências para centros mais avançados.

Roberto Kalil, presidente do conselho diretor do Incor, destaca que a telemedicina permitiu a realização de 42 cirurgias monitoradas remotamente, com apenas um óbito registrado devido à gravidade do caso. “Conseguimos orientar em tempo real, garantindo maior precisão e segurança durante os procedimentos”, explica Fábio Jatene, vice-presidente do conselho diretor.

A tecnologia já foi utilizada em cidades como São Luís (MA), Passos (MG) e João Pessoa (PB), e deve expandir para Salvador (BA), Manaus (AM) e Fortaleza (CE) em 2025. Com apoio de câmeras de alta resolução e parcerias público-privadas, a iniciativa busca ampliar o acesso a tratamentos especializados em todo o país.

Além de cardiologia, o Incor planeja estender o telemonitoramento para outras especialidades, como transplantes de órgãos, beneficiando pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) com tecnologia de ponta.

Fonte: Folhapress