por *Paulo Monçores, CTO e cofundador da Diferente
No cenário tecnológico atual, um ingrediente tem se destacado na receita do progresso: a Inteligência Artificial (IA). Por meio do seu potencial disruptivo, a tecnologia tem sido responsável por transformações intensas em diversos setores, sendo o da alimentação mais um dos exemplos mais emblemáticos. Ao misturar-se cada vez mais às tradições do campo, a tecnologia adiciona um sabor de eficiência, sustentabilidade e personalização para toda a cadeia produtiva dos alimentos, revolucionando todo o trajeto desde o plantio até o prato do consumidor.
Ao aplicar IA nas diversas etapas dos alimentos, as empresas e produtores estão conseguindo não apenas otimizar processos, mas também personalizar a experiência dos consumidores de uma forma jamais vista. As chamadas foodtechs, como são conhecidas as startups do segmento, estão na vanguarda da inovação, utilizando a tecnologia do momento para tornar todo o ecossistema mais sustentável, eficiente e alinhado às expectativas dos clientes.
O impacto do avanço começa já no campo, desde o momento do plantio, uma vez que a inovação permite uma gestão de cultivos muito mais eficaz. Por meio da inteligência dos dados, os agricultores passam a avaliar uma quantidade vasta de informações, desde padrões climáticos até às preferências de consumo em tempo real, facilitando a tomada de decisões mais assertivas, reduzindo desperdícios e ampliando a eficiência operacional.
É preciso destacar ainda que a utilização da IA permite um aproveitamento mais eficiente dos recursos naturais. Por meio de algoritmos, é possível otimizar o uso da água, dos fertilizantes e até mesmo determinar o melhor momento para plantio e colheita, resultando em um aumento significativo na qualidade e na quantidade dos produtos agrícolas. Além de maximizar o aproveitamento dos recursos e espaços disponíveis, a solução pode ser responsável ainda por aprimorar a logística de distribuição dos alimentos, graças às estratégias de transporte e entrega desenvolvidas com o seu auxílio.
Porém, os benefícios não ficam restritos à produção. As formas de compra e consumo também passam por uma enorme transformação. Imagine receber sugestões personalizadas de alimentos e receitas baseadas no seu histórico de preferências, indo, inclusive, além do óbvio e descobrindo sabores que nem mesmo sabia que gostava. Essa realidade já é possível graças à capacidade da IA de avaliar perfis de consumo e sugerir produtos que não apenas atendam, mas antecipem os desejos dos clientes por meio da análise dos dados.
Esse nível de personalização tem um efeito direto no crescimento das foodtechs, que conseguem encantar seus consumidores com serviços sob medida. Indo além, os algoritmos complexos permitem às companhias reduzirem os custos de maneira significativa, otimizando a cadeia produtiva e tornando os alimentos mais acessíveis para o consumidor.
Dificuldades à mesa
Apesar dos avanços, o caminho da inovação está longe de estar ileso aos obstáculos. A falta de conhecimento e acesso relacionados à essa nova tecnologia ainda são limitadores para o desenvolvimento de soluções. Para se ter uma ideia, muitos ainda compreendem Inteligência Artificial como sinônimo do ChatGPT, que é apenas uma das diversas ferramentas disponíveis baseadas no recurso.
Hoje, o principal desafio quando falamos da inovação, independentemente do setor, é conseguir encontrar maneiras de integrar o potencial no desenvolvimento de modelos escaláveis e adaptados às demandas. Para isso, estamos falando de um investimento considerável em pesquisa, desenvolvimento e capacitação profissional.
Outro aspecto crítico para o uso da ferramenta é a privacidade dos dados. É fundamental que as soluções de IA respeitem as informações pessoais dos consumidores, tratando-as com o máximo cuidado. A atenção quanto à privacidade e a garantia dos materiais sigilosos são pilares que sustentam a confiança entre consumidores e empresas, um bem tão precioso quanto qualquer inovação. Dados dos clientes não são produtos, mas um recurso para aprimorar serviços em seu benefício.
Portanto, embora a jornada da IA no setor de alimentação esteja apenas começando, as possibilidades são tão vastas quanto promissoras. Estamos diante de uma verdadeira revolução, onde a eficiência operacional, a personalização extrema e a sustentabilidade se encontram para criar uma cadeia alimentar mais inteligente, acessível e alinhada às necessidades e desejos dos consumidores. O futuro da alimentação é agora, e é alimentado pela Inteligência Artificial.
*Paulo Monçores é CTO e cofundador da Diferente. Com mais de quinze anos de experiência em desenvolvimento de software, gerenciamento de projetos e liderança, é formado em Sistema de Informação pela Universidade Federal do Paraná e já foi professor na mesma instituição.