Projeto busca investimento em produção de frutos para promover gastronomia do Cerrado

Para o chef de cozinha Vinicius Rossignoli, que vem percorrendo o cerrado de moto para visibilizar ideias, é preciso criar condições para agricultura sustentável O cerrado é o...

Para o chef de cozinha Vinicius Rossignoli, que vem percorrendo o cerrado de moto para visibilizar ideias, é preciso criar condições para agricultura sustentável

O cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, o mais antigo e o de maior biodiversidade alimentar. É o que destaca o chef de cozinha Vinicius Rossignoli, especialista na gastronomia do bioma, que esteve em Cuiabá nesta quinta-feira (11) para divulgar um novo projeto que busca chamar atenção para sua importância.

É que o cerrado não é considerado pela Constituição Brasileira um patrimônio nacional, como são a Amazônia e o Pantanal – com letra maiúscula –, outros importantes biomas brasileiros que compõem Mato Grosso.

“Até mesmo na caatinga, que também precisa desse reconhecimento, o Exército tem uma tropa para atuar ali. O cerrado nem isso. Então a defesa do bioma está, literalmente, à cargo dos que vivem ali”, ressalta o chef.  

Vinicius Rossignoli ficou conhecido como um dos participantes da edição 2018 do programa Masterchef. Agora, ele aproveita a visibilidade para promover um projeto que pretende contemplar agricultores familiares, extrativistas e empresários do agronegócio para produção de frutos do cerrado, a partir da criação de um laboratório de multiplicação de mudas.

O chef adotou essa demanda na busca por se especializar no uso de ingredientes do cerrado, depois de ter estudado gastronomias oriunda de diversas nacionalidades, quando percebeu que não conseguiria perenidade de insumos por parte de nenhum fornecedor, que argumentaram dificuldades de produção e baixa demanda de consumo.  

“Então pensei: preciso resolver essa equação, porque se eu quero ter, eu vou ter que fazer. Fui atrás da Embrapa, da UNB [Universidade de Brasília], e descobrimos que a melhor opção seria abrir um laboratório de multiplicação de mudas e consequentemente, atrair produtores familiares, agricultores e extrativistas”, explicou.

Com essas mudas, a ideia é incentivar o plantio de agloflorestas baseadas em cerrados e plantas frutíferas para mostrar aos para agricultores uma possibilidade de investimento bem gasto. “Em 45 dias eles começam a colher hortaliças e em quatro ou cinco anos os frutos maiores e mais rentáveis. Além disso você gera trabalho, renda, potencial competitivo”.

Segundo Vinícius, a ideia foi resolver a seguinte equação: “fazendeiros não gostam das áreas de preservação, porque eles não podem plantar. Os agricultores familiares têm poucas terras, tem que cortar tudo para poder plantar e, por conta disso, não conseguem financiamento para esse tipo de coisa. É um imbróglio muito grande”, diz.

Sendo o Brasil o único país do mundo que tem o cerrado em seu território, Vinícius é enfático ao afirmar que “está na hora da gente fazer aquilo que não foi feito com a seringueira o açaí. Eram produtos exclusivos nossos, mas ficamos de braços cruzados, deixamos a coisa acontecer e, quando vimos, deixamos de ser os produtores exclusivos e já não somos mais os maiores produtores”.

O chef também resume o objetivo do projeto de “promover resgate da nossa cultura e reconhecer que temos muita coisa boa”, movimentando, assim, toda uma cadeia produtiva que envolve não só o setor da gastronomia, mas a cultura e o turismo.

“É entender que temos ingrediente para termos também uma das melhores gastronomias do mundo. Precisamos pegar esses ingredientes e transformar em alta gastronomia e também mostrar de onde eles vieram. É aí que vem o turismo, não é só o fruto”.

Desafio 2 mil quilômetros

Por hora, Vinícius revela que empresas privadas, governo de Mato Grosso e municípios se mostraram bastante interessados em trazer o projeto para o estado. “Todos foram muito solícitos porque é um projeto de transformação social. No fim das contas não é uma via simples, tem uma capilaridade financeira”.

Para mobilizar apoiadores nos estados que compõe o cerrado, Vinicius cumpre um desafio de percorrer 2 mil quilômetros de moto, entre Brasília e Cuiabá, mapeando o bioma. Resolvi conhecer mais esse cerrado. O chef já fez 1.200 km por baixo de Mato Grosso, passando por municípios como Chapada e Barra das Garças.

“Vocês têm os mais incríveis visuais que eu já vi na vida. Campos com paisagens que se desse, eu moraria ali. Quando a gente fala de gastronomia, estamos juntando preservação, turismo, sustentabilidade, inclusão social. Esse percurso é para chamar atenção de que é possível”.

Para o percurso, ele contou com patrocínio de marcas internacionais, principalmente empresas automobilísticas, e lamenta a falta de aderência das iniciativas brasileiras.

“Não é barato. É um investimento de tempo e equipamento. O que dói bastante dessa história é que nenhuma são marcas [que patrocinam] são brasileiras. Estamos em um momento de olhar para dentro novamente, a pandemia nos deu essa chance de ver o que está acontecendo e nos reavaliarmos”.

Fonte: Leia Agora