Flores de Ipê rosa “rompem o tédio” da cidade cinza e esfumaçada.

Nos anos 40, o mineiro Carlos Drummond de Andrade eternizou a sensação de, em meio ao asfalto, ao tédio, ao nojo e ao ódio, ver uma flor nascer...

Nos anos 40, o mineiro Carlos Drummond de Andrade eternizou a sensação de, em meio ao asfalto, ao tédio, ao nojo e ao ódio, ver uma flor nascer no asfalto. A flor que não tinha pétalas, nem nome nos livros, nem mesmo cor. ‘Feia’, foi como o poeta a descreveu. Somente o fato de romper o asfalto, no entanto, já era motivo para que passassem de longe os bondes e ônibus. Que diria Drummond ao contemplar um ipê florido?

Árvore que gosta de calor e sol pleno, o ipê tem florada rápida, ficando apenas cerca de cinco dias embelezando as ruas com suas flores. Segundo o Instituto Brasileiro de Florestas, ela é uma ‘caducifólia’, ou seja, todas as suas folhas são substituídas por flores de cores intensas.

Mesmo após a florada, no entanto, as flores caídas continuam embelezando a paisagem, criando um caminho colorido pelo chão. Os ipês florescem em Cuiabá entre os meses de junho e setembro, época do ano em que há mais calor e fumaça por causa das queimadas.

Neste 2020, uma nova característica é adicionada: o ano da pandemia. Se a flor do asfalto de Drummond, feia, sem cor, que não se abria, ainda assim quebrou o cinza da capital e o vômito de tédio sobre a cidade, o ipê, imponente, colorido, belo e exuberante, pode lembrar ao povo que se protege da fumaça e da doença que a vida é feita de ciclos – e que no próximo ano, aconteça o que acontecer, ele vai florir novamente.

Fonte: Olhar Direto
Imagem: Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto