Na região amazônica, que este ano se tornou manchete em todo o mundo devido à quantidade de incêndios florestais, um pequeno município no interior de Mato Grosso mostra que é possível recuperar a floresta. Agricultores familiares fazem a restauração de áreas desmatadas com a implantação de Sistemas Agroflorestais (Saf).
A recuperação das áreas é realizada pelo projeto Poço de Carbono Juruena, desenvolvido pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena – Aderjur, com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Em função do longo histórico de apoio ao desenvolvimento socioeconômico do município, por meio dos diversos projetos socioambientais desenvolvidos, e principalmente durante esta última década, é possível perceber que houve um ganho na conservação ambiental das propriedades rurais. “Ao todo, 52% da área de Juruena está com cobertura de vegetação primária, situação muito diferente dos municípios vizinhos”, informou Paulo Nunes, coordenador do Poço de Carbono Juruena.
Pelo projeto Poço de Carbono, os agricultores podem escolher entre quatro tipos de restauração. Os quintais agroflorestais, que intercalam espécies frutíferas, árvores e palmeiras. Nesta modalidade, o solo é enriquecido pelos diferentes nutrientes das plantas, além de diversificar a fonte de renda do produtor.
A segunda modalidade incorporada foram os cafezais sombreados, em que o café é intercalado com plantio de espécies nativas arbóreas. Além de permitir melhor produtividade ao café, as árvores geram diversos serviços ambientais, como a manutenção de um microclima mais equilibrado ao longo do ano, conservando a fertilidade do solo, maior umidade no ambiente, possibilitando a conservação de maior biodiversidade de insetos polinizadores e de inimigos naturais que poderiam prejudicar outras espécies do arranjo agroflorestal, oportunizando maior produtividade e consequente receita financeira às famílias envolvidas.
Já os sistemas agroflorestais com palmeiras, privilegiam o plantio de espécies como pupunheira e açaí, estimulando a colheita do palmito, ou polpa de frutas a partir do segundo ano. O quarto e último modelo é o sistema silvipastoril, em que árvores são plantadas em áreas de pastagem, fornecendo sombra para os bovinos enquanto as árvores estão em crescimento.
Recentemente o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) fez um levantamento amostral das propriedades que recuperaram as áreas e estimou que o estoque médio é de 58 toneladas de carbono por hectare.
O arranjo produtivo que mais incorporou dióxido de carbono atmosférico foram os quintais produtivos devido ao fato de terem maior biodiversidade e um manejo mais adequado nestas áreas plantadas.
Viabilidade comprovada
O projeto Poço de Carbono Juruena tem demonstrado que a restauração florestal é viável economicamente além de ter um enorme ganho ambiental. Entre os benefícios estão à absorção de carbono da atmosfera, a conservação do solo, a diversificação e melhor distribuição da renda do agricultor ao longo do ano, o aumento de produtividade das espécies que são fundamentais neste ganho econômico para as famílias, como o café, cacau, pupunha, entre outras vantagens, a conservação da cobertura vegetal primária e sua rica biodiversidade.
Outro resultado alcançado pelo projeto é a conscientização dos agricultores de que não há necessidade de abertura de novas áreas de floresta, pois é possível aproveitar com eficácia as áreas já abertas.