Projeto de biodigestor pode atender comunidades carentes do país

Ser sustentável não está apenas na moda, e sim é estar antenado com os problemas que o nosso planeta enfrenta há muito tempo. Esses fatores acontecem principalmente pela...

Ser sustentável não está apenas na moda, e sim é estar antenado com os problemas que o nosso planeta enfrenta há muito tempo. Esses fatores acontecem principalmente pela falta de educação ambiental entre os seres humanos.

Por isso é fundamental nos fazermos as seguintes perguntas: como podemos causar menos impacto ao meio ambiente? Como a sociedade pode contribuir para a construção de um mundo com menos lixo tóxico?

Foi dessa necessidade urgente que surgiu o projeto Organic Life, que é um biodigestor, desenvolvido pelo Cleiton Emboava, em parceria com a Juliana Silva. O experimento utiliza resíduos sólidos orgânicos para produzir biogás, adubo e fertilizante, com a possibilidade de transformá-los em energia elétrica.

Cleiton Emboava e Juliana Silva.

Emboava é catador de lixo reciclável e atua juntamente à Cooper Glicério, que é uma associação na região central de São Paulo. Já a Juliana é gestora, natural de Minas Gerais, e soma sua percepção de como gerar renda aos conhecimentos mais técnicos de Cleiton.

Cleiton conta que ainda não há uma grande preocupação sobre a importância de dar uma destinação correta aos resíduos orgânicos e isso fez com que ele pensasse mais a respeito.

“A gente começou a fazer este trabalho de gestão de resíduos sólidos e secos e eu comecei a perceber que todo mundo tinha a preocupação com resíduo sólido e seco, mas não tinha a mesma preocupação com o orgânico. E o orgânico é um dos resíduos mais poluentes, que contamina o solo e todas essas questões. E é o que mais tem em abundância, o que mais se produz”.

Ele ainda ressalta que esse problema não é encontrado apenas no Brasil, e sim no mundo todo. “Então, como buscar uma tecnologia que se adaptasse num contexto pra sanar essa dificuldade de gestão de resíduo orgânico que tem no mundo? Não falamos só de Brasil, falamos também de outros países, de desenvolvidos e não desenvolvidos”, avalia.

Para que e para quem?

Quando se fala neste tipo de tecnologia, voltamos à década de 1930, quando fazendeiros já utilizavam a técnica para que não comprometesse o solo. Ou seja, não é um problema atual e sim de muitos anos.

E se eles já enfrentavam este drama décadas atrás, imagina agora com o crescimento desenfreado dos grandes centros urbanos do país.

A partir dessas informações, Emboava e Juliana quebraram a cabeça para que o biodigestor fosse adaptado ao nosso tempo e atendesse a sociedade como um todo, mas principalmente as comunidades mais carentes.

Para Cleiton, o biodigestor agrega conhecimento, inclusão social e geração de renda e por isso passou a estudar a tecnologia mais a fundo. “Comecei a descobrir que através do resíduo orgânico eu consigo produzir o biogás e através do biogás eu consigo gerar energia. Então, a gente tá sanando um problema de saúde pública. A gente tá conseguindo fazer essa questão dos bairros mais pobres e mais carentes, que é justamente a falta de saneamento básico. E o resíduo orgânico, ele tá ali no saneamento básico. Então, a falta de saneamento básico é resíduo orgânico em excesso”, explica o catador de material reciclável.

Emboava diz que acabava batendo de frente com os condomínios e prédios comerciais, pois ainda não há uma legislação que beneficie o descarte correto dos resíduos orgânicos nestes locais. Logo, ele percebeu que este não poderia ser seu público-alvo para iniciar um trabalho de conscientização.

Ida à África

A partir daí, surgiu uma oportunidade do Cleiton conhecer uma comunidade que também tinha os mesmos problemas que o Brasil, em relação ao resíduo orgânico. Sendo assim, ele partiu para Kisumu, uma província do Quênia, na África. Antes de viajar, Juliana o inscreveu no curso PDC 7, do Instituto Casa da Cidade, ministrado pelo coletivo Permasampa. O conteúdo serviu para que Emboava aprendesse mais sobre biodigestores, como montá-los e desenhar uma planta do projeto.

Todo este conhecimento foi aplicado em sua ida à África e também ensinou às pessoas de lá todo mecanismo. Hoje, ele integra a Rede Kiwan, que é o grupo do projeto que ministrou em Kisumu. “Eles me mandaram um vídeo e tem aqueles aguapés do lago Victoria, em Uganda, que eles vão transformar em biogás também”.

O pessoal da comunidade foi atrás de conhecimento e pegaram a planta de um país vizinho e farão a produção de biogás a partir desse resíduo. Apesar dos problemas entre os dois lugares, Cleiton nota que foi criada uma rede de troca de informações entre Brasil-Quênia.

“Criou-se este intercâmbio de ideias, parceria pra poder chegar nesse objetivo que é a destinação correta do resíduo orgânico pra melhorar a insalubridade dos lares mais carentes e que tem uma grande concentração de pessoas em situação de vulnerabilidade social”, afirma.

Sertão

Juliana conta que há muitos biodigestores no sertão brasileiro. Porém, eles não funcionam plenamente, porque não existe um monitoramento e controle. “O biodigestor trabalha em fases. Se essa fase do monitoramento do controle não flui, não é equilibrado, existe um descompasso. Então, senão tiver um controle de temperatura e de PH, a produção do gás diminui”, explica a gestora.

Geralmente, eles sãos instalados por ONGs, que não repassam o conhecimento aos moradores dessas regiões. Portanto, quando tem qualquer tipo de problema com o aparelho, eles têm que chamar quem instalou o biodigestor.

Residência Hacker

Com o êxito obtido por Cleiton na África, Juliana enxergou mais além e decidiu inscrevê-lo no Red Bull Basement. Emboava mal acreditou quando receberam a notícia de que o Organic Life integraria a residência hacker deste ano.

Cleiton e Juliana compartilham do mesmo ideal do Red Bull Basement que só seleciona projetos de códigos abertos para que qualquer pessoa tenha acesso ao material e também possa buscar viabilizar essas soluções tecnológicas.

O objetivo da dupla durante os dois meses de residência é conseguir fazer o monitoramento do biodigestor por meio de um sistema, ainda em fase de desenvolvimento, que mostre a temperatura e o PH, além da qualidade do gás em números. “Esse gás tá sem qualidade? Então, o que fazer pra ele ter qualidade? Então, o monitoramento ajuda muito nisso”, diz Cleiton.

A segunda fase do projeto, que não será desenvolvida no espaço maker, diz respeito à compressão do gás para que chegue de fato às comunidades periféricas.

O Razões vai cobrir a final da residência hacker em setembro. Fiquem ligados!

Os outros selecionados

Os outros quatro projetos deste ano também envolvem soluções tecnológicas, como o Cão-guia robótico, de Diego Silva (Catanduva – SP), que auxilia deficientes visuais a se locomoverem em ambientes urbanos, por meio de um comando de voz que traça uma rota via GPS. Já o Compost.ela, de Juliana Ries (Rio de Janeiro), é uma composteira residencial elétrica para resíduo orgânico.

ComuRede, de Filipe Rimes (Niterói – RJ) é um dispositivo de alerta de abastecimento de água, por meio de um sistema de Iot (Internet das Coisas, em tradução livre), que pretende solucionar o problema do abastecimento hídrico irregular e escasso em comunidades mais carentes.

Completando a seleção, o Plantrix, de Vitor Barão (São Paulo) é uma estufa que utiliza software e hardwares livres para reaproximar as pessoas das plantas.

Sobre o Red Bull Basement

O Red Bull Basement é um espaço de produção, pesquisa e difusão de projetos que exploram formas colaborativas de experimentos tecnológicos. Seu foco está na troca de ideias entre pessoas e coletivos de diferentes perfis, como: programadores, desenvolvedores de software, hackers e makers. O programa que foi criado em 2015 e hoje está presente em 40 países, inclui uma residência hacker, um makerspace, palestras regulares, um festival anual e o Basement University, focado em soluções para o cotidiano universitário.

Conheça mais em: www.redbull.com/basement

 

Fonte: RPA