Leonardo Lima*
Antes de entrar no tema pelo qual escrevo, gostaria de lembrar algo que sempre reforço em eventos e palestras em que participo: como pessoas e como sociedade, necessitamos refletir e observar que vivemos em um planeta que funciona como um sistema fechado e que tudo o que fazemos, isto é, nossas ações, impactam o próprio planeta. Se não observarmos isso como indivíduos, não conseguiremos visualizar o todo e enxergar o que precisamos mudar agora. A partir dessa reflexão, escalonamos: pessoas, empresas, organizações, governos, cúpulas mundiais. O mesmo acontece no mundo dos negócios e na forma como as companhias assumem metas e responsabilidades para mudar o impacto socioambiental que têm hoje.
Em toda a minha trajetória profissional trabalhei em grandes empresas do setor de bebidas e alimentação e, hoje, trilho um caminho em uma marca que assumiu diversos compromissos pensando no impacto socio -ambiental da sua principal matéria-prima: a carne. Para ser mais preciso, a bovina. Muito se fala sobre os principais impactos da pecuária no ambiente, como desmatamento e gases do efeito estufa, qualidade da carne e o bem-estar animal.
O McDonald’s é um dos maiores compradores de carne globalmente e temos trabalhado intensamente na responsabilidade de influenciar o setor para melhores práticas, uma vez tendo como premissa reduzir/limitar o impacto no planeta, falando da produção de alimentos. Também participo do Grupo de Trabalho para a Pecuária Sustentável (GTPS), criado em 2007, que discute o cenário da pecuária sustentável no Brasil. Em 2017, finalizamos importantes documentos, como o Manual de Práticas e o Guia de Indicadores (GIPS), que devem ser usados para todo o setor que discute e pensa o assunto.
Semana passada, fui um dos anfitriões de um importante encontro na América Latina, o primeiro Summit de Carne Sustentável feito na região, promovido pela GRSB (Global Roundtable for Sustainable Beef), pelo GTPS, pelo GASL (Global Agenda for Sustainable Lifestock) e nossa própria companhia e que foi sediado na Hamburger University, em São Paulo. O evento superou as expectativas, com recorde de público: 150 participantes de 15 países diferentes. Inclusive, o estrondoso sucesso possibilitou definir uma segunda edição no próximo ano, em Assunção, Paraguai, junto a Reunião Global do GRSB.
O ponto alto evento foi a troca de informações e conhecimento, principalmente entre empresas do setor privado e várias outras organizações do setor público e terceiro setor, como as informações passadas por nossos amigos vizinhos Uruguai, Argentina, Paraguai e Colômbia – citando apenas alguns países com representantes. A importância de reunir diferentes mesas redondas e tantos países para debater o tema é um passo muito à frente do que se imagina, porque mais do que agir, também queremos educar e informar a sociedade como um todo. Isso inclui nossos parceiros, fornecedores e consumidores.
A pecuária chamada “sustentável” já existe no Brasil e podemos dizer que estamos em um país evoluído no assunto. Temos, por aqui, atividade pecuária com preservação e o bom uso dos recursos naturais através de muita inovação, tecnologia e pesquisa. Mas ainda falta muito, com certeza. E me atrevo a dizer que o principal elemento que torna o tema ainda “negativo” para alguns ou polêmico para outros é a falta de informação, que pode ter sido defendida pela indústria por muito tempo – é verdade -, mas que hoje não é mais a realidade.
E parte de nossa responsabilidade como representantes de grandes empresas levar conhecimento ao nosso principal público através das nossas próprias práticas e do exemplo. Defendo no meu dia a dia que cada restaurante da companhia funciona como um influenciador à sociedade, porque podemos oferecer informações que ajudem as pessoas a compreender o que está acontecendo no mundo em relação ao desenvolvimento sustentável e quais as iniciativas e compromissos precisam ser assumidos agora. Há três anos, estive à frente de um anúncio importantíssimo no Brasil para compra de carne sustentável. Hoje, já quadruplicamos o volume de proteína advinda desse modelo de pecuária e esperamos aumentar em 30% o abastecimento até 2020, com verificação de todo o processo produtivo até a chegada da carne no restaurante. Este é o tipo de compromisso que esperamos ver de outras empresas e do setor como um todo. Só assim podemos mudar a cadeia e torna-la mais transparente para todos: os que comem carne ou não.
(*) Leonardo Lima é Diretor Corporativo de Desenvolvimento Sustentável da Arcos Dorados e Vice-Presidente do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável no Brasil.