Mais de 300 voluntários levam amor e fraternidade a pacientes do Hospital do Câncer

GESTO DE AMOR Os voluntários servem como um acolhimento para os momentos de alegrias e os momentos de dor. “Um gesto de amor”. São essas palavras que podem...

GESTO DE AMOR

Os voluntários servem como um acolhimento para os momentos de alegrias e os momentos de dor.

“Um gesto de amor”. São essas palavras que podem definir a iniciativa e o trabalho de voluntários em instituições como o (HCan) Hospital do Câncer de Cuiabá. Ações simples, desde o trabalho na recepção ou na farmácia, que podem fazer a diferença na vida de um paciente, familiar ou acompanhante. Pelo menos 300 voluntários exercitam a solidariedade e fraternidade no Hcan.

Kellita Lori, tem 27 anos, é voluntária há menos de um mês e está trabalhando na recepção do hospital. “Eu sempre tive vontade. Isso acaba tocando meu coração”, relata. Kellita contou que acha gratificante realizar o trabalho e que deixou de reclamar de muitas coisas de sua vida depois que começou a trabalhar voluntariamente no hospital. “As vezes as pessoas estão muito debilitadas ou não conhecem lá dentro, ai eu as levo e elas agradecem e me dão um abraço”.

Já Getúlio Dornelas, 68 anos, é aposentado e é voluntário há cerca de quatro anos no HCan. Ele trabalha na farmácia local e às vezes também atende na recepção. Getúlio é um senhor que prefere não se vangloriar pela atitude e relata que as pequenas atitudes fazem muita diferença. “É pelo amor! Se amarmos cada vez mais o mundo vai melhorando. E eu me sinto muito bem. Eu estou do lado de cá, mas e se eu estivesse do lado de lá? Eu faço pequenas coisas, sem ser grandiosas, mas uma conversa com um paciente pode fazer uma grande diferença”.

Os funcionários da unidade hospitalar relatam que todo mundo que trabalha ali é voluntário de certa forma. Todas aprendem a praticar a empatia, o amor e de certa forma passam a fazer parte da família dos que estão ali. O ambiente não é apenas um local de acolhimento para as alegrias e brincadeiras que fazem as doenças serem esquecidas, mas acolhe a dor de muitas pessoas também.

Arte e terapia

Uma sala no terreno do HCan quase esconde o ambiente de arteterapia. Maria de Fátima tem 63 anos, é psicóloga, e conta que o local acolhe pacientes, acompanhantes, voluntários e funcionários.

Criada há 10 anos, a arteterapia utiliza de materiais recicláveis, como garrafas e retalhos de tecidos, doados para criação de produtos como bolsas, colchas, ursos de pelúcia, pinturas e outras coisa. Estes itens são revendidos e a renda é doada para o hospital.

Todo esse trabalho pode ser produzido por qualquer pessoa que frequente o HCan. “Por meio da arterterapia, a pessoa não foca apenas na doença. Ela vê outras possibilidades de aprendizado ou recorda o que já sabia. É algo prazeroso”, narra Maria de Fátima.

Maria diz que eles estão precisando de mais voluntários, e não precisam necessariamente ter prática ou conhecimento em costura ou artesanato, pois tudo pode ser ensinado lá mesmo. Além disso, ela pede para que pessoas que já saibam realizar esses trabalhos manuais ajudem  a ensinar os demais.

Grupos de voluntários

O Girassol da Alegria existe há 16 anos e foi criado por Dejanira Pirovani, uma mulher que perdeu a filha de 15 anos e em um momento de dor passou a refletir sobre tudo que viveu durante o tratamento da filha. “Lembrei de seu carinho, meiguice e sorriso apesar da dor e do sofrimento. Outras mães que sofriam me vieram em mente também. Eu percebi que podia e devia fazer mais do que cuidar só da minha família e foi assim que surgiu o grupo”.

O Girassol da Alegria se subdivide em seis grupos, que têm um coordenador responsável para cada diferente atividade desenvolvida. Além do HCan, a equipe visita o Hospital Júlio Müller, Associação de Amigos da Criança com Câncer (AACC), Abrigo Bom Jesus, Casa Transitória Irmã Dulce e a Casa Apoio à Família.

Ela ressalta que são todas entidades que recebem também pessoas de todo o Brasil que realizam tratamento em Cuiabá e não têm condições financeiras para se hospedar em hotel.

Dejanira conta que os coordenadores são as almas do Girassol da Alegria e que os voluntários são de extrema importância. “Acho que ser voluntário é seguir os ensinamentos de Jesus. É perceber o quanto aprendemos com as pessoas, que apesar de tudo que passam continuam firmes, com força e fé para enfrentar o tratamento. Ser voluntário no Hospital de Câncer é muito gratificante e edificante. É fazer tudo com carinho e amor. É ter compromisso”.

Ela explica que ser voluntário é querer diminuir o sofrimento do paciente através de uma conversa, músicas, brincadeiras e ressaltando o quanto cada um deles são importantes.

Outro grupo que também realiza voluntariado no HCan é a “Rede Feminina Estadual de Combate ao Câncer de Mato Grosso”, uma entidade filantrópica que iniciou suas atividades em 1988.

Maria Carmem Volpato conta que a Rede teve um papel muito importante na construção e instalação do hospital em Mato Grosso.

“Nosso trabalho é ajudar o paciente oncológico carente a enfrentar a doença, auxiliando-o com exames, medicamentos, alimentos, transporte e o que for preciso para melhorar sua qualidade de vida. Hoje somos 70 voluntárias trabalhando no grupo”.

A Rede Feminina junta há três anos recursos e realiza mensalmente eventos para arrecadar fundos destinados à construção de uma casa de apoio dentro do HCan, que será destinada aos pacientes do interior que não têm onde morar durante o tratamento.

“Ser voluntária é muito mais que oferecer uma parte de nosso tempo, é muito mais que olhar para a necessidade do outro, é muito mais que fazer parte de uma maravilhosa corrente, muito mais que colocar o nosso entendimento e experiência em benefício do outro.  O voluntário é amor em toda essência, e esse amor não é só um sentimento, é algo mais complexo e extenso. Tem tanta força e tanto poder, que é capaz de comandar, orientar, mover, preencher e principalmente transformar a vida de alguém”, relata Maria.

Ações pontuais

Algumas vezes empresas realizam ações para pacientes e familiares que estejam frequentando o Hospital de Câncer. Assim como uma loja de cosméticos que tirou uma tarde para atender na ala de quimioterapia e radioterapia.

Os representantes da loja Faces Makeup contam que a maquiagem é muito mais do que uma pintura no rosto e faz com que a mulher se sinta bonita. Eles dizem se sentirem gratos e realizados, pois ofertam autoconfiança e autoestima para os pacientes e acompanhantes e é uma ação que revigora o espírito.

Marinalva Andrade, 69 anos, estava acompanhando o marido no tratamento no dia em que a ação ocorreu.  “Gosto demais do hospital, fico encantada com o tratamento dado, o amor, apoio e carinho do pessoal daqui, parece que eles nasceram pra cuidar dos outros. Me sinto uma rainha com esse tratamento dos voluntários, nos sentimos valorizados, eles nos tratam como pessoas normais”, relata.

A voz da psicóloga

Erluce Delmondes, que é psicóloga e trabalha há 17 anos no Hospital de Câncer, ressalta que o Brasil se destaca no trabalho voluntário. “A maioria dos voluntários já passou pela enfermidade ou teve alguém próximo que passou. Isso é uma forma de transmitir um conhecimento, é uma forma de poder oferecer para outro algo que ele já tem, pois ele já passou pelo tratamento e o sofrimento”.

A psicóloga aponta que há um sentimento de “mesmo que eu perca, eu posso ajudar” e isso acaba se tornando um gesto de amor. Explica também que há várias formas de ser voluntário, por exemplo a doação de dinheiro, cestas básicas ou o trabalho dentro do hospital próximo de pacientes ou não.

Segundo Erluce Delmondes, o voluntário pode fazer muita diferença, assim como em casos em que uma mãe está cansada e o voluntário passa 15 minutos brincando com a criança. Isso já ajuda muito. Os minutos de atenção valem a pena.

Além disso, a psicóloga observa que o carinho e o afeto ofertados de tantas formas também ajudam na situação clínica do paciente, pois ocorre uma certa higiene mental. Isso controla a dor, ajuda no auto astral e os envolvidos têm outros pensamentos, deixando a doença de lado por um tempo.

Seja um voluntário

Para ser voluntário na unidade de saúde é necessário passar por um treinamento ofertado pela própria instituição. Em 2019 podem ser realizados mais dois treinamentos, pois já houve um, mas ainda não há data pré-estabelecida.

É preciso ficar atento e acompanhar o hospital pelo site e as redes sociais da unidade, onde será divulgada a abertura das inscrições.

Após o treinamento, é feita uma entrevista individual e o voluntário conhece o hospital mais de perto, e vai ser alocado em alguns setores para uma fase de testes. O trabalho voluntário no HCan segue a legislação específica e é limitado a participação a 4 horas semanais.

Pessoas ou grupos que queiram fazer ações pontuais – como a realizada pelo Faces Makeup – podem entrar em contato pelo telefone (65)3648-7560 ou e-mail voluntariado@hcancer.com.br para apresentar a proposta e marcar uma reunião.

Por Juliana Alves, Circuito MT